Cena do Espetáculo "SENHORA DOS AFOGADOS", produção da Cia da Farsa com direção de João Valadares.
Cia da Farsa festeja 13 anos com montagem de Nelson Rodrigues
Patrícia Cassese/Hoje em Dia
Lucas Serpa/Divulgação
Autor levou incesto ao extremo da dor e da loucura e, por incrível que pareça, com toques de humor
Dos tempos em que ainda cursava teatro, nos anos 90, uma cena ficou tatuada na memória da atriz Sidneia Simões. Em casa, em um exercício proposto pelo professor Luiz Paixão, pôs-se a passar um trecho de “Senhora dos Afogados”, de Nelson Rodrigues. Foi quando percebeu que do rosto do pai, hoje já falecido, corriam – sim! – lágrimas.
“Veja, meu pai, que nunca tinha ido ao teatro – nem mesmo para assistir às coisas que fiz –, uma pessoa do interior, simples, se tocou com o texto”, diz ela, que, a partir desta sexta-feira (5), aproximadamente duas décadas após aquele momento marcante, encarna a personagem Moema na versão que a Cia da Farsa, na qual é uma das integrantes, apresenta no Galpão Cine Horto.
Bem, a cena familiar pode ter sido o embrião da vontade de Sidneia em submeter o texto completo ao crivo do público, mas cumpre dizer que a opção pelo texto foi unânime também entre os outros componentes: Alex Zanonn,Alexandre Toledo, Marcus Labatti e Pedro Vieira. “Uma coisa bacana é que todos os personagens são bons, o que, claro, é interessante para uma companhia”, diz Sidneia.
O projeto começou a tomar corpo em novembro do ano passado. “Foi quando sentimos que era importante ter um olhar de fora, então chamamos João Valadares, que é um jovem diretor. Foi uma oportunidade de trabalhar com ideias novas, e foi um processo prazeroso e colaborativo – muitas pessoas de fora do grupo, como atores e amigos, conhecidos, foram chamados para ver os ensaios, e daí coletamos algumas impressões e mudamos algumas coisas”, lembra Sidneia.
Sobre a sua Moema, Sidneia diz que a protagonista representa o complexo do Eletra. Apaixonada pelo pai, leva tudo ao extremo, “Ela é muito determinada, na loucura, no desejo dela, que fala mais forte que tudo. Para o ator é legal fazer um personagem que leva as situações ao extremo, já que, na vida a gente tenta ser moderado, comedido”. Em tempo: a montagem marca os 13 anos da companhia.
Cia. da Farsa encena 'Senhora dos afogados', de Nelson Rodrigues
Espetáculo entra em cartaz neste fim de semana no Galpão Cine Horto
Carolina Braga - EM CulturaPublicação:05/09/2014 08:00Atualização: 05/09/2014 08:41
“Grandes autores são meio tentadores”, diz o ator Alexandre Toledo. Pois depois de visitar por duas vezes a dramaturgia de Ariano Suassuna, chegou a vez da Cia. da Farsa mergulhar em uma tragédia com tintas Rodrigueanas. 'Senhora dos afogados', a nona montagem do grupo, desta vez com direção de João Valadares, estreia hoje no Galpão Cine Horto em curta temporada até domingo.
Com Alexandre Toledo, Alex Zanonn, Marcus Labatti, Pedro Vieira e Sidneia Simões no elenco, o texto narra a história de uma filha obcecada pelo pai. Ao lado de 'Álbum de família' (1945), 'Senhora dos afogados' (1947) é tido como um dos textos mais polêmicos de Nelson Rodrigues. À maneira do autor, são abordados temas como incesto e traição. “Nelson sempre desloca o ator. Nos faz acessar coisas com as quais não tratamos corriqueiramente e fica um pouco no subterrâneo”, observa o ator.
A opção do grupo foi por uma encenação limpa, para valorizar texto e interpretação. Sendo assim, o cenário tem apenas uma mesa central, que também se transforma em cama, quarto e até mesmo umbarco. “Fizemos alguns cortes no texto e resolvemos centrar nos cinco personagens principais”, conta Alexandre. Segundo ele, cada ator interpreta mais de um personagem.
Os ensaios para a peça começaram em março. Pesquisador de ação física, o caminho indicado pelo diretor João Valadares foi tentar primeiro representar no corpo toda a verborragia de Nelson Rodrigues. “Sempre crio a partir das ações, tentando fazer o corpo falar antes do texto. Nossa labuta diária passou por isso: como compreender sem simplesmente apenas lê-lo.”
Para João Valadares, o resultado é uma encenação bastante imagética, já que os corpos dos atores não tratados apenas como personagens, mas por vezes dançam e também representam o coro. O diretor se refere a 'Senhora dos afogados' como se fosse uma missa rezada às avessas. “Nelson toca em questões muito profundas do humano. Acho que é uma missa porque todos os personagens cometem pecados que nascem do amor. Todos eles amam demais”, conclui.
SENHORA DOS AFOGADOS
Peça de Nelson Rodrigues, com a Cia. da Farsa. NEsta sexta e sábado às 21h; domingo às 19h. Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).
Os atores Alexandre Toledo e Sidneia Simões se desdobram em vários personagens
Com Alexandre Toledo, Alex Zanonn, Marcus Labatti, Pedro Vieira e Sidneia Simões no elenco, o texto narra a história de uma filha obcecada pelo pai. Ao lado de 'Álbum de família' (1945), 'Senhora dos afogados' (1947) é tido como um dos textos mais polêmicos de Nelson Rodrigues. À maneira do autor, são abordados temas como incesto e traição. “Nelson sempre desloca o ator. Nos faz acessar coisas com as quais não tratamos corriqueiramente e fica um pouco no subterrâneo”, observa o ator.
SENHORA DOS AFOGADOS
Peça de Nelson Rodrigues, com a Cia. da Farsa. NEsta sexta e sábado às 21h; domingo às 19h. Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).
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